Hoje, distraído no trânsito, sem intenção “fechei” um carro que vinha na minha direita, obrigando o condutor a frear bruscamente. Ele não querendo deixar barato, revidou gritando: Viado, Filho da p…! Que coisa, não?! Qual a relação entre o meu comportamento imprudente e a minha sexualidade? Ou as opções sexuais de minha mãe? Alguém responde?

Vivemos um momento da história onde apesar das constantes e crescentes discussões a respeito da sexualidade humana, sobretudo da orientação sexual, o preconceito ainda parece estar bem longe de deixar de ser uma realidade.  

A situação que relatei no trânsito revela os resquícios da nossa velha cultura machista e perversa que infiltram as bases da sociedade atual, trazendo uma carga de preconceito e violência contra pessoas que apresentam orientação sexual diferente da heterossexualidade pregada como padrão correto.  Não à toa Rich (2010) descreve a heterossexualidade como compulsória, dentro de um movimento político capaz de aniquilar a existência de outras formas de relações, o que legitima a violência e o preconceito. 

A pessoa que tem uma sexualidade diferente da heterossexualidade em pleno seculo XX tem tido os seus direitos agredidos por uma sociedade que “brinca” de machucar. Palavras pejorativas, que seriam sinônimo de homossexualidade, são utilizadas indiscriminadamente de maneira diminuir ou ofender pessoas.  

Através de palavras como “viado”, “bicha”, “mulherzinha” ou ainda expressões diretas que fazem referência ao sexual ato homossexual, como “vá tomar no c…”, insistem em imprimir uma marca de sujo ou vergonhoso á opção ou ao próprio ao ato sexual.  

Essa é a perpetuação do pensamento preconceituoso… Que aponta não apenas a orientação sexual da pessoa, onde até a própria anatomia e fisiologia do ato é tratada como ofensa.  

Tal comportamento precisa ser combatido, estou falando de pessoas, de seres humanos que são violentados diariamente, que têm os seus direitos triturados e sua liberdade dilacerada por uma educação preconceituosa que forma nossas crianças.  

Hoje, já não há espaço para as velhas perguntas de sempre: “o que define a orientação sexual de uma pessoa?” ou “qual a causa da homossexualidade?”.  A resposta é Clara. Não interessa o que causa, não interessa o que influenciou, o fato é que temos agora uma pessoa com o seu próprio modelo de sexualidade e com a sua própria orientação sexual. E essa pessoa precisa ser respeitada.

Então te digo, independente da sua própria sexualidade, dos seus valores, crenças, convicções ou religião, lembremos que a discussão é sobre pessoas… Não é um jogo de quem tem razão, mas um olhar sobre quem está sofrendo… É questão de amar ao próximo como a ti mesmo.

Ahh… E tem a parte de filho da P…, então te pergunto, porque no momento do incidente no trânsito, ao invés de tecer comentários sobre o comportamento de minha mãe, ele não gritou “Seu pai é um pegador!” ou “Filho de um garanhão”?

Cenas de um próximo capítulo.

Pelo psicólogo Adelson Sousa 

Pós graduado em Gestalt-Terapia, Pós Graduando em Sexologia, Formação em Prevenção ao Uso Indevido de Drogas, Psicólogo Clínico e Facilitador de grupos terapêuticos.

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