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Louca… Sem noção… Exagerada… Problemática que não gosta de viver em paz.
Se você já se sentiu ou já foi chamada assim, talvez você sofra Gaslighting sem perceber.
O termo faz referência a peça Gás Light do dramaturgo inglês Patrick Hamilton , de 1938. No enredo, um marido mora com sua esposa numa casa iluminada com lampiões a gás. A principio bastante clara.
Com o passar do tempo, diante dos seus incômodos com a liberdade, vaidade e reivindicações da mulher, o marido vê na redução gradativa da iluminação da casa uma maneira de limitar tais características.
Então, ao longo dos dias, ele reduz pouco a pouco, de forma quase imperceptível a intensidade da iluminação dos lampiões da casa, de modo que a esposa não perceba a mudança.
Com o passar do tempo surgem as primeiras observações da moça sobre a iluminação. Mas as respostas do marido são categóricas: Claro que nada mudou… você está louca… está vendo coisas… são coisas de sua cabeça… eu não mudei em nada…
Os comportamentos violentos e de controle que hoje existem na sua relação não começaram de modo tão claro. Esses comportamentos se iniciam sutilmente.
De repente, hoje você percebe que de alguma maneira misteriosa se afastou da presença de amigos e se pega constrangida ao sair para lugares ou fazer coisas que você imagina que não agradaria ao seu parceiro. Mas aonde mesmo tudo isso começou?
Esse tipo de comportamento controlador é gradativo e muitas vezes se camufla em disfarce de “cuidado”.
O cara não diz a uma mulher no primeiro encontro coisas como:
“Pare de sair e exclua tais amigos porque me incomoda”, ou “Troque de roupa porque com essa você está com cara de puta querendo chamar atenção dos homens”.
Claro que não ocorre assim, dessa forma maioria das mulheres dariam um grande e belo tchau ao rapaz e esses problemas estariam evitados.
A coisa toda no inicio é sempre velada, e no caso do gaslighting, muitas vezes essas regras de controle nunca nem mesmo serão ditas em palavras.
A existência de tais regras se dará na esfera do não-dito, onde simplesmente a pessoa se sentirá constrangida ou culpada em quebrar a regra ou a ordem oculta estabelecida. De algum modo imperceptível para a vítima, a coisa toda simplesmente acontece. Mas a mão que segura o chicote não é invisível.
A redução do gás se camufla em disfarces de gestos carinhosos ou de cuidados. Observe:
“Amor, acho que esses seus amigos podem ter interesse em você. Você não percebe? Talvez amor, você dê muito espaço para eles e ambiente de trabalho faculdade não é lugar para isso…” ou, “Está muito bonita com essa roupa vai para onde assim? Comigo você não se arruma desse jeito…” ou ainda, “Meu amor, para você que é professora um biquíni tão pequeno pode não ficar bem, já pensou se os pais ou alunos encontrarem com você na praia, o que pensariam a seu respeito? Me preocupo amor, podem achar que você é uma pessoa sem valor…”
E assim, de repente a garota que tinha muitos amigos já não tem muitos. Seu gosto por músicas, passeios, praia e viagens já não são prioridades. A pessoa que tinha uma individualidade e segurança, agora se sente incapaz de imaginar sua vida sem o seu relacionamento e se pega numa dependência emocional que a impede de seguir e de andar com as suas próprias pernas.
Olhe ao redor e perceba que mudanças ocorreram. A iluminação da casa já não está igual, e sim… a casa está escura! Você não está louca. As coisas mudaram.
Suas insatisfações e suas reclamações têm fundamentos a partir dos comportamentos vindos do seu parceiro? Então têm sim fundamentos e precisam ser considerados. Sua voz não pode ser calada.
Normalmente, por trás do comportamento controlador e violento do abusador existem traumas e inseguranças que desencadeiam essa necessidade de controle e de “estar por cima sempre”. A percepção dessas fragilidades no parceiro costumam causar nas vítimas uma postura maternalista de cuidado e a crença no seu potencial e esperança de mudança.
Mas te adianto, a fechadura da mudança fica do lado de dentro, e não depende de você. As mudanças esperadas talvez nunca aconteçam, não é sua responsabilidade. Enquanto você cuida dele, quem cuida de você?
Não é uma recomendação aqui que você encerre o relacionamento, não adiantaria somente trocar de relação e continuar se anulando. Meu apelo é pra que aprenda a se impor e dar suas condições para permanecer numa relação que também te faça feliz. Então a escolha será dele e talvez ignorar suas condições represente o final da relação.
Trabalhe suas inseguranças e suas dependencias emocionais, aprenda a se sustentar nas suas próprias pernas.
É momento de perceber e dar-se conta.
Quiçar, seja momento de mudanças. Talvez você mereça ser feliz. Já pensou nisso?
Uso aqui o exemplo advindo da peça teatral de abusos de um marido para com uma esposa, mas relações abusivas não ocorrem só de homem pra mulher. Pode partir de qualquer uma das partes independente da configuração do relacionamento.
Por Adelson Sousa
- Pós graduado em Gestalt-Terapia,
- Pós Graduando em Sexologia,
- Formação em Prevenção ao Uso Indevido de Drogas,
- Psicólogo Clínico e Facilitador de grupos terapêuticos.